Manifestações reumatológicas na doença inflamatória intestinal

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Inicialmente associada à doença inflamatória intestinal (DII) em 1929, por Bargen, a artrite só foi diferenciada da artrite reumatoide na década de 50. Na atualidade, a DII está incluída no espectro das espondiloartrites (EpA) por apresentar sinovite, entesite e associação genética com o HLA-B27. Dessa forma, até 70% dos pacientes com EpA tem lesões intestinais inflamatórias, sendo compatíveis com doença de Crohn (DC) em cerca de 26% dos que se submetem a ileocolonoscopia. De fato, 6 a 10% dos pacientes com EpA desenvolvem doença inflamatória intestinal, com forte correlação entre inflamação intestinal e articular.

Alguns autores acreditam que o envolvimento articular é a manifestação inicial da DII e que alterações intestinais floridas podem surgir anos depois. De 36% a 46% dos pacientes com DII tem manifestações extraintestinais, sendo as reumatológicas as mais frequentes e significativamente mais comuns. Na colite ulcerativa (RCU), por exemplo, a prevalência de envolvimento articular é de até 62%. De forma não tão comum, a artrite também pode ocorrer na doença de Whipple, doença celíaca e após by-pass intestinal.

Já a prevalência da EpA em pacientes com DII é variável: 18 a 45% preenchem critérios para EpA, 3 a 9,9% para espondilite anquilosante (EA); cerca de 14% desenvolvem uma ou mais manifestações clínicas de EpA sem preencher critérios diagnósticos, e alguns desses (até 24%) tem sacroileíte assintomática.

Quadro clínico

Em geral, os sintomas intestinais precedem ou coincidem com as manifestações reumatológicas, embora a pior articular esteja mais associada com a atividade inflamatória intestinal na colite ulcerativa do que na doença de Crohn. O envolvimento pode ser periférico ou axial, incluindo sacroileíte com ou sem espondilite, semelhante à EA.

Artrite periférica

A artrite periférica ocorre em 17 a 20% dos casos, sendo mais comum na doença de Crohn (10 a 20%) do que na colite ulcerativa (2 a 7%). Em 31% dos casos, a artropatia pode aparecer até três anos antes do diagnóstico de DII. Já a forma poliarticular tende a ser mais crônica e não erosiva, embora possa ser destrutiva, seu curso independe das exacerbações da DII e a coexistência de outras manifestações extraintestinais é rara, exceto uveíte.

Em geral, os sintomas intestinais precedem por vários anos ou coexistem com manifestações articulares. Estudo prospectivo de 123 pacientes com EpA, 6% desenvolveram doença de Crohn entre dois e 9 anos após o primeiro sintoma articular. Na colite ulcerativa, parece haver relação temporal entre artrite e recaídas da inflamação intestinal.

Envolvimento axial

Ao contrário da artrite periférica, o envolvimento axial – espondilite ou sacroileíte precede manifestações intestinais, tem curso crônico e o HLA-B27 é encontrado em até 50% dos pacientes. O quadro é praticamente igual ao do EA, sem manifestações extra-articulares, com lombalgia de caráter inflamatório e noturno, acompanhado de limitação progressiva da movimentação em todos os eixos da coluna. O curso clínico depende da atividade inflamatória intestinal e a cirurgia intestinal não altera o curso da EpA.

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