Imunobiologia na reumatologia – conceito

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A terapia imunobiológica foi introduzida no arsenal terapêutico do médico reumatologista há pouco mais de uma década. Representa um grande avanço no tratamento de doenças reumatológicas, sobretudo porque atua na modulação do sistema imune que se encontra alterado. A artrite reumatoide, artrite idiopática juvenil, espondilite anquilosante e artrite psoriásica são as principais patologias em que essa forma de tratamento está indicada. Os imunobiológicos também podem ser usados em casos refratários de outras enfermidades reumáticas como artrite reativa, lúpus erimatoso sistêmico, dermatopolimiosite, esclerodermia e vasculites, porém ainda sem indicação formal aprovada.

Epidemiologia, quadro clínico e diagnóstico

A Artrite Reumatóide (AR) se caracteriza por uma polioartrite de pequenas e grandes articulações, de caráter aditivo e simétrico, que pode evoluir cronicamente com erosões ósseas, deformidades importantes e incapacitação funcional. Afeta 0,5% a 1% da população adulta, atingindo até 4,5% dos indivíduos entre 55 e 75 anos de idade. Manifestações sistêmicas podem estar presentes em pulmões, coração, olhos, rins, além da vasculite reumatoide.

Cerca de 50% dos afetados terão dificuldades no desempenho de suas atividades laborais após, em média, 10 anos da doença e a sobrevida de pacientes com AR é 20% menor do que a população geral. Dessa forma, é fundamental que a AR seja diagnosticada logo, de modo que o tratamento adequado seja rapidamente instituído, no sentido de evitar danos e sequelas graves.

A Artrite Idiopática Juvenil (AIJ) refere-se a um grande grupo de desordens que afeta crianças até os 16 anos de idade e se caracteriza pela presença de uma artrite crônica em uma ou mais articulações, de causa desconhecida, e por um período maior ou igual a seis semanas consecutivas. De acordo com as características clínicas e laboratoriais, nos primeiros seis meses a AIJ pode ser classificada como sistêmica, oligoarticular, oligoarticular estendida, poliarticular com fator reumatoide (FR) positivo, poliarticular com FR negativo, ERA (entesite relacionada à artrite), artrite psoriásica e outas formas, quando não se encaixa em nenhuma das categorias citadas.

Sua incidência varia de 1 a 22 casos por 100.000 com prevalência de 8 a 150 por 100.000. A uveíte anterior crônica, presente em até 21% das crianças com AIJ oligoarticular e 10% das com AIJ poliarticular, pode ser uma causa importante de perda visual se não for diagnosticada e tratada precocemente e de forma efetiva. Já a artrite psoriásica na infância representa um desafio diagnóstico, já que o quadro articular pode preceder o envolvimento cutâneo em vários anos, sendo que, em um terço dos casos, a psoríase se desenvolve por volta dos 15 anos de idade.

A Espondilite Anquilosante (EA) acomete principalmente o esqueleto axial (coluna e sacroilíacas) e se manifesta pela presença de dor lombar de caráter inflamatório, muitas vezes referida em região das nádegas. As entesites de inserções ligamentares e tendíneas são comuns, e quando presente, a artrite periférica tem um padrão assimétrico, afetando, sobretudo, os membros inferiores. A EA acomete entre 0,5% e 2,5% da população, é mais comum em pacientes jovens e do sexo masculino, tendo forte agregação familiar, e o HLAB27 é presente em 90% dos casos. Essa doença é altamente incapacitante, 25% evoluem para anquilose total de coluna, afetando de maneira significativa a capacidade funcional e a qualidade de vida do enfermo.

A Artrite Psoriásica (APs) afeta cerca de 30% dos pacientes com psoríase cutânea, sobretudo aqueles com envolvimento ungueal. Na grande maioria dos casos, o quadro cutâneo precede a manifestação articular, que pode ser bastante agressiva, erosiva e progressiva. Um alto grau de suspeita clínica e interação estreita entre o dermatologista e o reumatologista são mandatórios para que o diagnóstico precoce da APs seja realizado. Dessa forma, é possível proporcionar rapidamente uma terapia adequada direcionada às manifestações articulares, no intuito de prevenir a incapacidade funcional.

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